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2 de set. de 2012

Sobre Anne Frank


     O diário da garotinha Anne Frank apresenta, em sua essência, uma perspectiva bastante inovadora quanto ao lado humano que é retratado.
     Em suas contradições, a menina-moça, durante os dois anos em que permaneceu em seu Anexo Secreto*, amadurece de um modo extraordinário. Um dos vários hábitos que prende a atenção do leitor, especificamente brasileiro, é a conduta dos habitantes do anexo com relação aos estudos. É o passatempo destes, chegando a ser muitas vezes até prazeroso. É certo que na antiguidade já era sabido que o ócio muitas vezes favorecia os estudos. Isto pode ser apenas uma retomada sintética ou os brasileiros são ocupados demais com o carnaval.

     O modo como é retratado o cotidiano dos judeus escondidos durante o período da Segunda Grande Guerra é bastante curioso, pois difere de números - como é apresentado nos livros didáticos de história. É interessante de se analisar o contexto no qual se insere, bem como buscar as raízes de tanto sofrimento, considerando a ideologia da qual faz parte. Isto, certamente, despertará uma repudia a tal movimento que, no mínimo, buscá-se-á evitar.
     O leitor percebe, no transfigurar dos dias passados, que sua fé oscila bastante, no entanto sua esperança não teve fim enquanto escreveu, até por que o ato de escrever foi por ela atribuído uma nova perspectiva. Escrever era ser, pelo menos uma última vez, livre, era buscar seu "eu" que estava intrínseco, subjetivo, seu "eu" oculto, um "eu" que estava preso à folha, do qual os nazistas não poderiam sequer imaginar e do qual sua família mal conhecia.
Sua fé, mesmo oscilante, em nenhum momento foi perdida, pois o medo que a todo instante a despertara, a obrigava a rezar, estimulava então uma práxis de sua fé.
     A cerca da metade do livro, percebe-se, nitidamente, que a protagonista se enamora de um rapaz, da qual esteve sempre à vista, entretanto não era muito enfatizado. Garoto tímido e pacato, talvez não fosse jamais, antes de sua presença no Anexo, despertar o amor da mesma. No entanto, tem-se o ponto mágico do livro, quando duas solidões completam-se a fim de se tornar, o oposto da solitude, a vivência plena de um amor recíproco e ingênuo. É quando a perseverança não mais sai de sua presença, é o ápice de sua esperança. Falar com Peter* torna-se tão agradável quanto estar lá fora desfrutando da natureza, a qual só depois de ser limitada é verdadeiramente valorizada pelos habitantes do Anexo Secreto*.
    O livro trata exatamente disto que se percebe. Uma adolescente abastecida de sonhos, de esperança, de fé, de amor, de solidão e de carência generalizada que espera pelo fim da guerra e pelo início de sua liberdade - que em terra não é alcançada.

*termos do livro O Diário de Anne Frank

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