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3 de mar. de 2013

A menina Lara


Lara sempre foi a mais esquisita da família. Mesmo tendo boas condições, sempre andou maltrapilha. Tinha 18 anos e nenhuma alteração no aspecto visual havia acontecido. Sua mãe, a Gerusa, detestava esse comportamento, não havia criado filho para andar feito mendigo nos cantos. Distanciava-se da filha sem perceber ou, quem sabe, era algo automático - típico desse mundo globalizado.
Um dia, dona Gera resolveu bater à porta da filha, depois de uma conversa estressante com o marido, a fim de desabafar - os outros 3 filhos eram pequeninos demais para entender e se preocupar, não valia a pena, portanto.

Lara estava séria e engolindo uns comprimidos que, à princípio, lhe pareceram ser os remédios de asma.
- Lara?!
- Oi mãe - disse Lara, um pouco surpresa
- Precisamos conversar... - Falou a mãe receosa.
- Conversar? tudo bem! - Lara expôs um sorriso tímido. Pensou que a mãe fosse, enfim, colocar um "The End" nessa relação de coleguismo entre dois entes tão íntimos, mãe e filha. Malgrado, o fim chegaria de qualquer jeito.
Então, Gerusa entrou e sentou-se junto a filha na cama e desabafou sobre o trabalho, sobre o marido, sobre as diaristas, sobre as crianças, sobre tudo o que a preocupava. (E este foi o problema).
Ao terminar a conversa, quando pisou no tapete que já a colocaria para o lado de fora do quarto, percebeu que lágrimas escorriam dos olhos de Lara. O que não era comum. Em que pese o choro, não se ouvia gemidos nem se via qualquer alteração nas expressões faciais de Lara, estava só um pouco pálida. Isto abalou a mãe, que resolveu voltar e perguntar:
- Filha, você está se sentindo bem?
- Estou como sempre, mãe. Não se preocupe, irá passar. - Então começou a rir sem parar, por ter, ainda que sem esperanças, dito que a mãe não se preocupasse... Mas é claro que isso não aconteceria! Não depois de 18 anos. E a mãe voltou a perguntar:
- E agora rindo? o que se passa, menina?
[...]
Lara silenciou... Os comprimidos responderam por ela.

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